Como funciona a Engenharia Comportamental e o que está a mudar?
A ideia básica de construir comportamentos na “área produtiva” e social existe há milhares de anos.
Começou provavelmente no grupo restrito de indivíduos com laços consanguíneos (família) e foi-se alargando à medida que os grupos e sociedades se foram também alargando, em número de indivíduos e de complexidade de funcionamento.
As culturas e as tradições humanas, definindo muitas vezes os papeis e os comportamentos esperados de cada individuo no seio do grupo, espelham isso mesmo, para além das conhecidas regras religiosas, sociais, politicas e de justiça.
Na verdade, a própria evolução da vida, definiu mecanismos de funcionamento comportamental preferenciais, inculcados sob a forma de impulsos, designados por instintos, balizados por padrões de referência (adquiridos pela experiência e pela repetição) e diversos sinais dicotómicos de incentivo ou desincentivo (ao nível de todos os sentidos – prazer/dor, belo/feio, música/ruído, saboroso/desagradável, etc).
A inteligência artificial (ainda numa fase inicial de desenvolvimento) procura replicar esta engenharia, com a vantagem da capacidade de análise, com rigor e rapidez, dos grandes números (dados de milhares de casos), onde pode procurar lógicas de relação e algoritmos - sequência precisa de acções que conduzem a uma solução optimizada de um determinado problema.
A grande dificuldade está ao nível da produção da química que está por detrás das emoções.
E é essa química que está a originar grandes mudanças nesta Engenharia Comportamental, suportadas pela explosão das possibilidades de acesso à informação e ao conhecimento.
Enquanto no passado essa Engenharia se baseava muito na força, na protecção, no medo e na manipulação, e, as coisas funcionavam bem, hoje essa abordagem tende a produzir resultados medíocres.
O que mudou então? Quais são as grande diferenças?
Para melhor compreendermos a situação, convém esclarecer a lógica do próprio funcionamento humano:
O grande propósito instintivo do ser humano é a sua afirmação e expansão, a nível individual e de grupo.
Nesse sentido, possui mecanismos que lhe permitem competir e expandir-se, florescendo, reflectindo-se em níveis de satisfação, autoconfiança e de competitividade crescentes (capacidade cerebral e física) .
Estes mecanismos permitem o desenvolvimento de capacidades e competências, para além de um funcionamento harmonioso e com satisfação do organismo humano.
Estão alinhados neste sentido, o que poderemos chamar de instintos e emoções positivas ou virtuosas. São exemplo, os instintos de afirmação, de integração social e de reprodução, e, as emoções, de alegria, amor, compaixão, gratidão e de perdão, que se traduzem numa visão positiva do futuro.
Mas possui também mecanismos de adaptação e de defesa, para as situações de reveses e de dificuldades, que mais não são que comportamentos de espera, reflexão e de reajustamento. Situações muito prolongadas no tempo, com estes mecanismos de defesa e de adaptação muito ativos, poderão ser fatais, já que promovem um funcionamento de urgência e de visão de futuro incerta ou potencialmente negativa, e consequentemente desequilibrado, do organismo.
Neste caso, suportam estes mecanismos um conjunto de instintos e emoções considerados “negativos”, no sentido em que, com o tempo, tendem a deixar marcas negativas. Contudo, eles são positivos e úteis, desde que funcionem pontualmente. São exemplos, os instintos de ataque ou defesa (gerador de ansiedade), de agressividade (face a uma ameaça), de susto (face a algo inesperado e desconhecido), de autoproteção (leva a passar a culpa das situações para outros), e, as emoções, de medo, tristeza, raiva, frustração, ódio, angústia, inveja e ciúme.
No passado, os mecanismos primordialmente utilizados na Engenharia Comportamental baseavam-se nos mecanismos de defesa e de adaptação, oferecendo protecção.
O contexto era caracterizado primordialmente pela estabilidade, por sociedades e mercados relativamente protegidos, um nível de concorrência controlado, e, consequentemente uma exigência de competências menor que a atual.
Num contexto de constante mudança, grande competição e de grande exigência de conhecimentos e competências, em que só há lugar para os mais capazes, os mecanismo de Engenharia Comportamental, para serem eficazes, terão que se basear necessariamente nos mecanismos de expansão, ou seja, nos instintos e emoções virtuosas. São apenas eles que permitem a melhor capacidade de resposta.
Por outro lado, os melhores profissionais, para manterem e desenvolverem o seu nível de desempenho, como lhes é exigido, necessitam também desta nova abordagem.
As próprias sociedades estão a evoluir, a todos os níveis, exigindo respostas e abordagens nesta nova vertente, como por exemplo ao nível da saúde - medicina com maior enfoque em manter as pessoas saudáveis, em vez de estar mais enfocada no tratamento das doenças.
Naturalmente que estas novas exigências e realidades requerem dos líderes atuais novas competências e enfoques, nos quais as pessoas, individualmente e em grupo, devem ser o ponto de partida para os resultados que se pretendam atingir.
Carlos Carreira
Gestor de empresas, coacher, formador, investigador
Autor do livro “Para Lá dos Teus Limites”
ccarreira@exodusconsultores.com