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Como será a liderança no futuro que começa hoje?

O processo de liderança de pessoas no futuro não será muito diferente do de hoje, como este não é muito diferente do de há séculos atrás. A natureza humana permanece basicamente a mesma.

Contudo, o contexto de liderança será muito diferente. Assim, o estilo e a forma, e, consequentemente algumas competências necessárias para liderar, assumirão também formas diferentes.

Os grandes vectores de diferença de contexto no futuro, com pendor mais colaborativo, de maior proximidade e com maior escrutínio do que no passado e presente, deverão resultar do actual processo de globalização e democratização, de sistemas políticos e sociais de natureza mista e de um forte desenvolvimento económico, do conhecimento e das tecnologias, com uma extensa robotização e digitalização da generalidade das tarefas hoje desenvolvidas pelo ser humano. O que promoverá diferenças nas competências e comportamentos dos liderados, destacando-se um nível de competências e conhecimentos mais elevado e uma maior exigência em termos de qualidade de vida.

O estilo de liderança, por sua vez, deverá também resultar das tendências de desenvolvimento de hoje, continuando a manter um forte enfoque nos resultados mas acentuando ainda mais a componente das relações, reforçando aspectos como a capacidade de iniciativa, autonomia e responsabilidade (empowerment), a par da promoção do desenvolvimento, satisfação e realização pessoais.

Serão então exigidas aos líderes as tradicionais competências de inteligência cognitiva e da capacidade de adaptação da abordagem a cada situação particular (liderança situacional), mas acentuar-se-ão as exigências da chamada “inteligência emocional” e da congénere “inteligência instintiva”.

O estilo de liderança será assim moldado por necessidades de:

- produzir resultados significativos em contextos de grande exigência, competitividade e complexidade, o que exigirá um forte sentido prático e de orientação para os resultados, e, de saber acrescentar valor a todos os envolvidos.

- saber exercer o poder formal, com sentido de equilibrio, motivação e sentimento de “justiça”. Dada a maior proximidade e transparência com que a liderança será exercida, o respeito pelo lider a este nível será vital.

- facilidade de adaptação e de saber tirar partido de novas situações (mais rápidas e frequentes).

- desenvolver um forte poder informal mobilizador, onde pontuarão as competências que referimos atrás a par naturalmente das necessárias competências técnicas.

De notar que, segundo vários estudos realizados em vários países, existe actualmente uma insatisfação generalizada por parte dos liderados com a forma como a função de chefia ou de liderança é exercida. As competências de relacionamento, ou as chamadas “softskills”, estão maioritariamente na base desse descontentamento pelo que estão já hoje em forte procura.

As novas competências: inteligência instintiva e emocional

Todos sabemos que são os comportamentos que geram os resultados e que por detrás destes estão um conjunto de atitudes e de reflexões e decisões (actividade cognitiva).

Contudo, na base das atitudes e comportamentos e da atividade cognitiva estão as emoções e na base das emoções os instintos.

A área instintiva controla e gere todo o organismo humano, incluindo todas as outras áreas do cérebro, a ponto de, numa emergência, bloquear por completo essas áreas, impedindo, por exemplo, qualquer capacidade de pensamento ou de emoção. O desmaio é uma dessas decisões extremas, outra, é o da perda da consciência, mantendo tudo o resto a funcionar. Veja-se o caso da maratonista Hyvon Ngetich na Maratona de Austin, em Fevereiro de 2015, que apesar de perder a consciência atravessou a meta, aparentemente “consciente”, à semelhança do que acontece, em termos de comportamento, com uma pessoa sob hipnose. É uma área notável, responsável, por exemplo, por curas milagrosas e inexplicáveis (vejam-se as curas obtidas com a utilização de placebos).

Representa a componente mais animal do ser humano, orientada por objectivos de expansão e de afirmação, de reprodução, e de sobrevivência. É assim determinante na vontade e afirmação de cada individuo, e, está na origem da excecional e natural capacidade competitiva do ser humano.

Apresenta contudo, potencialmente, alguns problemas, ao tender a ser imperativa (com base na experiência de milhões de anos), apresentando-se, muitas vezes, desadequada aos contextos e situações da vida actual. Nesse sentido, recolhe informações de outras áreas, nomeadamente ao nível de expectativas, e prepara o corpo para uma resposta programada “adequada”.

Entre as “emoções” de natureza instintiva contam-se o medo, a raiva, a alegria, a tristeza, a “necessidade de afirmação da individualidade” e os “instintos sexuais”.

As grandes realizações humanas do passado têm maioritariamente algumas destas emoções na sua base e os líderes continuam a utilizá-las abundantemente. E a principal razão é porque são eficazes.

A área instintiva atua, maioritariamente, através da produção de hormonas, que regulam o funcionamento e a atividade do corpo humano, constituindo a base de algumas respostas “instintivas” mais conhecidas, como por exemplo:

- o comportamento de “luta ou fuga” – hormona adrenocorticotrófica (que estimula a produção de adrenalina e cortisol) – que pode ser promotora de um desempenho excecional (em níveis razoáveis e controlados) ou de um bloqueio da atividade cognitiva (criando nervosismo, ansiedade e dificuldades de memória e de raciocínio – em níveis elevados).

- o comportamento de combatividade versus de relação – produção de testerona e de estrogéneo (hormonas masculinas e femininas).

Todas as “emoções” de natureza instintiva são fundamentais ao funcionamento de resposta de excepção de qualquer ser humano, e, nesse sentido, devem ser geridas adequadamente pelos lideres, em particular o medo (de falhar, de ser ridículo, de perder o emprego, etc), e, a “necessidade de afirmação” (de desenvolver o seu potencial, de deixar a sua marca, etc), por forma a permitir um comportamento hormonal de elevado desempenho, com a necessária satisfação e saúde.

O desafio é, em primeiro lugar, ter consciência da sua existência e modo de funcionamento, e, em segundo, conseguir geri-las de forma adequada aos resultados pretendidos, no próprio e nos outros, tendo em atenção o nível certo, tal como o sal na comida.

A área emocional, propriamente dita, está fundamentalmente orientada para os outros e para o funcionamento em grupo e em equipa (a vida isolada tornou-se praticamente impossível de forma saudável). Ela fornece ao ser humano um sentido de hierarquia de importâncias de tudo o que o rodeia, gerando impulsos de mobilização mais ou menos fortes, de acordo com esses níveis de importância. Por esta razão, a gestão de emoções é crucial para a motivação e o desempenho dos liderados, como também dos próprios lideres.

O “sentimento de pertença e de identificação”, o amor, a amizade, o reconhecimento social, o gostar do que se faz, as simples relações sociais bem sucedidas e agradáveis (por vezes difíceis de conseguir) são cruciais a um ambiente de elevado desempenho.

Assim, os lideres do futuro estarão preocupados em introduzir e gerar emoções positivas no ambiente de trabalho, como forma de criar as condições favoráveis a desempenhos de elevado nível, contrariamente ao que sucedia no passado, o que exigirá novas competências, como a de saber ler a emocionalidade e a instintividade de cada um e do grupo como um todo, bem como conseguir comunicar de forma fluída e adequada, tendo em consideração estas características.

O rosto humano é uma tela de comunicação excecional. Os lideres aprenderão a linguagem desta tela, não só a linguagem do momento (curto prazo) como a linguagem de evolução (médio prazo) e a linguagem de transmissão (longo prazo – adquirida dos antecessores).

A linguagem de curto prazo é dada pela expressão das emoções no momento, enquanto a linguagem de de evolução dada pelas marcas de repetição de emoções (desenvolvimento muscular e ósseo), e, a linguagem de transmissão, pela configuração do rosto (linhas herdadas).

Trata-se contudo de uma linguagem, que tal como todas as outras, requer tempo e dedicação para apreender a sua lógica e estrutura, e, para aprender os sinais e os correspondentes significados. Tal como também nas outras linguagens, há um período no desenvolvimento e formação do individuo em que essa aquisição é mais fácil (infância).

Por essa razão, as competências base da liderança do futuro serão aprendidas desde muito cedo. A escola e a família serão cada vez mais os locais privilegiados para o desenvolvimento dessas competências. Mas tal como nas outras línguas, será sempre possível fazê-lo numa fase de adulto, desde que haja abertura, interesse, vontade e dedicação.

Carlos Carreira
Gestor de empresas, coacher, formador, investigador
Autor do livro “Para Lá dos Teus Limites”
ccarreira@exodusconsultores.com

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